quarta-feira, 19 de março de 2014

A Desumanização - Valter Hugo Mãe

Gosto dos escritores nórdicos em geral e dos islandeses em particular, nomeadamente, Laxness, Vilhjálmsson, Einar Már Gudmundsson e, mais recentemente, Sjón.  Admiro a pureza da sua escrita, a emoção perene, ainda que decantada.
Gosto muito de Valter Hugo Mãe e tenho lido todos os seus livros com grande interesse. Não foi o caso deste. O escritor diz não haver nada de português neste livro mas, quanto a mim, senti-me sempre numa aldeia de Trás-os-Montes e nunca (ou quase nunca) na Islândia. A escrita parece-me muito mental, muito pensada, uma tentativa persistente de que algo funcione. Na minha opinião, não funciona. O livro resume-se a um conjunto desagregado de considerações filosóficas. Há passagens muito interessantes como esta: "No mapa de deus as coisas aparecem pelo admirável do engenho, a candura, a aventura da inteligência ou da intuição." Mas creio que o autor se perdeu completamente, no espanto pela Islândia.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A Guardiã dos Sonhos - Rani Manicka

Comprei este livro depois de uma maravilhosa viagem pela Malásia, que me deixará para sempre apaixonado por aquele país. Certo é que demorei demasiado tempo a decidir-me a lê-lo. Nem sei bem porquê.

Talvez por ironia, o livro nunca chegou a transportar-me para a Malásia. Sobrepõe-se a presença da Índia (que também visitei) pela simples razão de se tratar da história de uma família com origem no Ceilão (Sri Lanka) que leva para a Malásia e, em consequência, para o livro, toda as suas raízes, a sua cultura, a visão do mundo sob um outro prisma.
Creio que falha a descrição de um cenário que nos desperte os sentidos, que nos conduza para aquelas paragens, integrando-nos na paisagem exuberante da Malásia, com todos os seus ruídos naturais, os seus aromas e clima tão peculiares.

Pensei que não tinha apreciado demasiado este livro mas a verdade é que, apesar de alguns dias passados sobre o término da sua leitura, tenho ainda as personagens bem vivas no meu espaço.
Esta saga familiar, que atravessa quatro gerações, faz um retrato intenso das relações quase sempre difíceis entre os seus membros. Descreve o poder no feminino, seja através do amor, da beleza ou do equilíbrio da economia familiar. Não traz qualquer redenção para os homens. São sempre vistos como fracos ou perversos.
A escrita é bastante fluída e, de alguma forma, deixa-nos expectantes. Achei muito bem conseguido todo o retrato da invasão da Malásia pelos japoneses, mexendo com as emoções e agarrando o leitor. Mas confesso que dispensava as 500 páginas. Creio que todo este percurso familiar poderia ter sido contado de forma mais breve. Também me parece que o tipo de linguagem usado pelas personagens não é muito diversificado, dando-nos a imagem de que todas seriam muito letradas, com grande capacidade de reflexão filosófica, não estabelecendo assim qualquer distinção entre elas.
Mas foi uma boa companhia.