quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Persepolis - Marjane Satrapi

No início, não entendi o "bruá" que se tinha criado em volta deste livro. Pareceu-me apenas interessante, razoável. Mas, à medida que fui avançando na leitura, fui gostando cada vez mais da forma como a autora denuncia as estratégias políticas para controlar o povo (e a facilidade com que este se deixa manipular), inclusivamente através das "fake news", que pensamos serem coisa tão recente.
Gostei também dos momentos de humor e da determinação e coragem desta miúda, presentes desde tenra idade.
Sei como, numa situação de guerra, a tensão pode ser esmagadora e como o comportamento das pessoas pode ser surpreendente ou chocante (até a família se pode virar contra nós e denunciar-nos por suspeitas infundadas). Nesse sentido, este livro é bastante revelador e importante, também porque esclarece muito do que é a história recente do Irão.

(7/10)

Os dez espelhos de Benjamin Zarco - Richard Zimler

Quando comecei a ler o livro, tive uma sensação de "déjà vu" (ou déjà lu). Via perfeitamente "o filme" a passar na minha cabeça, os personagens e a acção. Depois, fez-se luz! A primeira parte tem por base um conto que Zimler publicou na antologia "Uma dor tão desigual". Fiquei mais aliviado, não havia em mim nenhuma loucura, pelo menos neste episódio.

Ao ler Zimler fico com a sensação de que me persegue, mas sempre no bom sentido. Em cada livro, "apanha-me" com os temas que vivo no momento, aqueles que me interessam ou afligem, "apanha-me" nas minhas memórias, nas mais felizes e nas mais dolorosas. Neste livro, Richard Zimler aborda o xamanismo, a reencarnação, o Legado Ancestral, o misticismo judaico, o Ser Supremo que somos todos, o 'mesirat nefesh'. Mas também o envelhecimento, o abandono e a crueldade. E o amor, livre de complexos e de preconceitos.
Fico sempre profundamente comovido com a forma como o autor fala da amizade e da lealdade, assuntos recorrentes nos seus livros.

D' Os Dez Espelhos de Benjamin Zarco, guardarei uma oração poderosa (que não sei de onde vem, nem me interessa) e duas frases:
"Talvez nenhum de nós tenha alguma vez consciência do efeito que tem no mundo" e "Todas as pessoas que amei são a minha verdadeira pátria".
Nem que fosse só por eles, o livro já teria valido a pena.

Apenas um pormenor negativo: por vezes a tradução irritou-me profundamente, apesar dos rasgados elogios de Zimler à tradutora.
(8/10)

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Fagín, o Judeu - Will Eisner

Will Eisner sentiu-se compelido a criar este livro por ter achado que a imagem dos judeus tinha sido estereotipada na figura de Fagín ('o judeu', em Oliver Twist) e que esse estereótipo se tinha expandido de forma expressiva com esta obra de Charles Dickens, dada a sua popularidade.
Este livro levanta essa questão interessante, a de os escritores criarem ou fazerem perdurar estereótipos que criam segregação a níveis dramáticos. E fez-me pensar sobre o assunto e manter-me mais atento.
Se a sua intenção era a de limpar a imagem de Fagín, não sei se o livro me convenceu. Mas é um bom trabalho gráfico e uma história bem contada, com vários pormenores históricos, fazendo justiça às intenções e integridade de Charles Dickens.